Pular para o conteúdo principal

Resenha Crítica: Nassau, Nassaus Notas brutas sobre os usos da História

     Durante este capítulo da obra de Bernardes, na introdução, o autor já procura fazer uma reflexão sobre a questão dos usos da memória da nação e do passado histórico, apontando como um dos aspectos que conduzem pelo desprezo das identidades brasileiras, dois grupos em específico: a Sociedade e os poderes públicos, que contribuíram na desvalorização e destruição do patrimônio nacional. Sendo assim, deslocando o olhar, para o que se cultivou a ter de uma identificação coletiva nos últimos cinquenta anos, se a pretensão de ter uma reminiscência totalizante, de fato inclui as diferenças e seus processos de afirmações no presente, ou se apenas seria uma história por uma historiografia dos vencedores e dos vencidos, provocando assim a abertura de perspectivas que possam serem divergentes. 

   Dessa maneira, o autor chega a outro ponto que merece um pouco mais atenção, o caso pernambucano e baiano questionando as diferentes reflexões quanto às comemorações dos quinhentos anos de Brasil, desde a chegada de europeus, mencionando as relações com a história e o mercado, desenvolvidas junto aos diferentes níveis de expressão na formação social e do campo cultural de uma determinada região.

      Com isso, ao deslocar o olhar para Pernambuco, provocando no leitor a diferença quanto a ótica, empregada no patrimônio histórico que restaram e foram preservados dos 25 anos dos holandeses em terras do leão do norte a partir de questões indagadoras do presente, quanto a este passado colonial de pernambuco, Bernardes aponta que parte significativa do patrimônio urbano do Recife do século XX, foi colocado abaixo, sem uma justificativa e sem alguém ou algum órgão que pudesse intervir. Nesse sentido, ele demonstra insatisfação por algo assim ter acontecido, como se não houvesse nenhuma perda e valorização por parte dos responsáveis, que deveriam zelar pelo patrimônio, desde a sociedade recifense, até os órgãos competentes.

    Nos anos vinte do século passado, anos marcados pela modernidade, o novo buscava o mais profundo da memória histórica, legitimidade e enobrecimento, buscando também o papel dos heróis pioneiros de um sentimento nativista brasileiro. Sob este olhar de interpretação e reinterpretação de um passado, a evocação do período holandês ganha forma e brilho, quanto à estética e ao prestígio, sem uma preocupação maior com a busca erudita de uma verdadeira história.

      Nessa busca de enaltecer um olhar, em detrimento de subjugar outro, os historiadores ao fazer um revisionismo sobre o passado, deve se buscar perceber e apontar os mecanismos subjetivos e objetivos através do saber histórico, como a memória histórica, como segmento essencial dos embates e dos interesses culturais, políticos, sociais e ideológicos.

       Uma parte da discussão do autor parte da identificação e relação do verde e do vermelho brasileiro, em que diferentes cronistas, donatários, e pessoas de outras nações europeias atribuíram sob diferentes olhares aquilo que eles relacionaram a um tipo de identidade, havendo uma discussão que não se fundamenta na generalização de que o verde fosse ou deveria ser a cor do perigo, e que deveria ser inteiramente ser posto abaixo pelo vermelho salvador do fogo.

      Nesse sentido, Bernardes dialoga que Maurício de Nassau é frequentemente citado em textos que discutem como a História pode ser manipulada para fins específicos, como legitimar práticas políticas ou justificar ações coloniais. Em sua administração, Nassau procurou apresentar uma imagem de governante ilustrado e tolerante, por meio da promoção das artes, das ciências e da documentação da vida no Brasil, incluindo a famosa série de desenhos de Frans Post sobre a fauna e flora brasileiras, além de relatos que buscavam mostrar a "civilização" imposta pelos holandeses.

       Sob este prosseguimento do curso da história do Brasil holandês, entre todas as recriações, mais ou menos fantasiosa, nenhuma foi tão longe quanto, a narrativa da cidade de Nassau, no qual se afirma que para se ter habitantes, Nassau obrigou militantemente o envio de algumas pessoas para a ilha de plantas, no qual fundou - sem conservar o mérito português - ou melhor, a cidade que ganhou o nome de Maurícia, em que há controversas, provocando o erro do anacronismo. Nesse sentido, o seu maior legado, deixado no plano científico e artístico, deve ser lembrado, sem esquecer que todos os administradores de colônia, antes ou depois de Nassau, tinham funções de extrair riquezas para o enriquecimento da metrópole.

      No finalzinho do seu capítulo, o autor, esboça que por mais que tenha iniciado com uma reflexão quanto a preservação do patrimônio nacional, e de certa maneira aponta uma desqualificação em sua natureza quanto aos representantes, sejam individuais ou coletivos, sempre houve um esforço e cuidado, na luta de preservação, embora estes esforços apresentam insuficiências e precariedades na contemporaneidade.

       Embora falar sobre a história pernambucana, alguns assuntos são negligenciados, esquecidos, tidos como menos importantes. Neste ponto de vista, falar ou pensar sobre a presença dos holandeses em pernambuco, não é algo que fica restrito a museus, ou a histórias, mas que é uma temática sempre revisitado pelos diferentes meios de comunicação da atualidade, como enfoca Bernardes, em que por meio de pesquisa quantitativa, constatou no início de século XXI, um grande número massivo em revistas, jornais e nos diferentes meios de comunicação, o quanto que a pauta dos holandeses em Pernambuco ainda é um assunto muito apreciado e que continua no imaginário do público brasileiro e pernambucano.

     Sendo assim, a questão da memória coletiva e individual é recorrente e se desdobra em novas perspectivas, na medida que questões do presente são revisitadas, e sendo assim, procuram-se respostas no passado. Com isso, o cenário da primeira república ou durante os anos trinta, quarenta e cinquenta do século XX, em que mal se mencionava a revolução pernambucana nos meios de comunicação do período, sem qualquer registro na imprensa e sem cerimônias cívicas, oficiais ou não, que os rememoravam. Atualmente, em pleno século XXI, o calendário foi modificado, e a data em que acontece a revolução pernambucana é vista, sentida e reflexiva na relação com um passado histórico, ainda mais por ser feriado estadual para os pernambucanos, gerando uma base de fundamentação que leva a sociedade a um evento do passado histórico da sua localidade.

Escrito por: Danilo Santos Lopes

Email: danilovskidayb@gmail.com

REFERÊNCIA:

Bernardes, Denis Antônio de Mendonça. Nassau: Notas sobre o Uso da História. Editora da UFMG, 2007.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Maracatu Rural: Uma expressão pernambucana

  O Maracatu Rural, também conhecido como Maracatu de Baque Solto, é uma expressão cultural profundamente enraizada na Zona da Mata pernambucana, constituindo-se como uma das mais ricas e emblemáticas manifestações populares do estado de Pernambuco. Diferente do Maracatu Nação (ou de Baque Virado), o Maracatu Rural apresenta características únicas que refletem sua história e conexão com o universo rural. Ele surge como uma expressão híbrida, resultado de uma complexa interação entre elementos africanos, indígenas e europeus, evidenciando a interculturalidade da cultura brasileira. Uma das figuras mais marcantes dessa manifestação é o caboclo de lança, símbolo central do Maracatu Rural. Com seus trajes exuberantes, golas bordadas, chapéus adornados com fitas coloridas e uma lança decorada, o caboclo de lança representa a força, a resistência e a identidade cultural das comunidades que preservam essa tradição. O papel desse personagem transcende o aspecto performático, pois ele carre...

O Real Colégio Jesuíta em Pernambuco: A fundação do terceiro colégio da Companhia de Jesus no Brasil no século (XVI -XVII)

        Os colégios jesuítas foram instituições idealizadas pela Ordem missionária inaciana criada no século XVI. Onde houve a presença marcante desses missionários, houve a implementação de Colégios. A Europa foi o berço dessas casas de Ensino, pode-se com facilidade encontrar instituições de ensino na França, em Portugal, na Espanha e em quase toda a Europa Central. O seu principal objetivo é o de formar novos missionários para agregar na missão maior da Companhia: difundir o cristianismo através da palavra. No entanto, em algumas localidades ela assumiu propósitos mais amplos, a exemplo disso, temos a América Portuguesa. No Brasil muitas casas de Ensino serviram para a formação dos filhos da elite, ou seja, formaram uma nova elite letrada.  O Colégio jesuíta de Pernambuco teve a sua origem na Igreja de Nossa Senhora das Graça. Na verdade o donatário da época, Duarte Coelho faz a doação desta pequena Ermida aos primeiros companheiros de Inácio que outro...