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O Real Colégio Jesuíta em Pernambuco: A fundação do terceiro colégio da Companhia de Jesus no Brasil no século (XVI -XVII)

        Os colégios jesuítas foram instituições idealizadas pela Ordem missionária inaciana criada no século XVI. Onde houve a presença marcante desses missionários, houve a implementação de Colégios. A Europa foi o berço dessas casas de Ensino, pode-se com facilidade encontrar instituições de ensino na França, em Portugal, na Espanha e em quase toda a Europa Central. O seu principal objetivo é o de formar novos missionários para agregar na missão maior da Companhia: difundir o cristianismo através da palavra. No entanto, em algumas localidades ela assumiu propósitos mais amplos, a exemplo disso, temos a América Portuguesa. No Brasil muitas casas de Ensino serviram para a formação dos filhos da elite, ou seja, formaram uma nova elite letrada. 

O Colégio jesuíta de Pernambuco teve a sua origem na Igreja de Nossa Senhora das Graça. Na verdade o donatário da época, Duarte Coelho faz a doação desta pequena Ermida aos primeiros companheiros de Inácio que outrora chegará à província de Pernambuco, especificamente no ano de 1550. A doação marca a presença da Companhia de Jesus nesta região tão importante economicamente para a Coroa, sabe-se disso graças ao consenso da historiografia acerca do Brasil colonial e a economia açucareira em Pernambuco. 

        A presença jesuíta em Pernambuco foi marcada por uma forte instabilidade nos anos inicias. Não foi fácil se manter enraizados na Capitania açucareira. Não havia dinheiro e nem missionários o suficiente, o financiamento era inexistente, a não ser pelas poucas esmolas recebidas que não davam conta do desejo de se manter no território. Passou-se dez anos, e nos anos sessenta dos quinhentos a estabilidade da Companhia vinha ganhando forças, isso graças a chegada de novos jesuítas.

A chegada dos jesuítas em Pernambuco deu-se devido ao crescimento em que a Capitania estava passando, consequentemente crescia também a imoralidade. Havia na província moças índias pecadoras, religiosos leigos em pecado e mancebias, além dos pecadores encontrados nas fazendas.

Quando falamos em Colégio imaginamos que a estrutura seja composta apenas por um edifício, assim como as escolas e universidades modernas. Ora, como poderia ser dessa forma, se constatamos ainda a pouco que essa instituição teve a sua origem na ermida de Nossa Senhora da Graças, isto é, de uma Igreja?

As obras do Colégio se iniciaram no ano de 1562, o início delas marcou  a segunda tentativa da Companhia de Jesus em Olinda, seria então construída uma estrutura não apenas para o ensino, mas também que pudesse ter uma certa subsistência econômica própria. Iria compor esta obra e área doada, uma Igreja para o culto e pregação, as classes, moradias para padres e alunos internos, cozinha e refeitório, essa últimas para atendimento coletivo tanto a população da vila e arredores, como a própria comunidade jesuítica (a botica), além das áreas destinadas à produção de gêneros de subsistência: a horta e o pomar.

Nos sessenta, especificamente o ano de 1568, iniciou os primeiros estudos, antes mesmo da finalização das obras, a instituição começou o curso elementar de ler e escrever. No ano de 1570, o colégio já contava com o curso de latim. Seis anos depois o curso de casos. No ano de 1574, um ano antes da dotação real, o colégio de Olinda contava com noventa e dois alunos, de humanidade e do curso elementar. O colégio foi um verdadeiro sucesso, basta reconhecermos a quantidade de alunos.

O alvará do Rei ocorreu no ano de 1576, a partir disso, o Colégio de Olinda recebeu dotação Real, foi reconhecido como uma instituição de demasiada importância, graças ao desempenho da Companhia em converter os gentios, e também porque não ao sucesso do Colégio localizado na Bahia. Desse modo, o Colégio de Pernambuco tinha a atenção da Coroa. Evidentemente impulsionado pelo contexto histórico da Capitania: Crescimento das povoações e aumento das rendas. Em vista disso, o Colégio recebe como dotação uma renda de vinte mil réis anualmente, assim como os outros dois, O Real Colégio da Bahia e do Rio de Janeiro. 

No século XVII, a instituição passou por poucas e boas, ainda em construção sofreu diretamente com os ataques holandeses, o colégio fora transformado em quartel general, e no ano de 1631, tanto a Vila de Olinda como o Colégio e todo o seu escopo foram incendiados, a ponto de ter certas partes da estrutura reconstruída após a expulsão dos flamengos. Atualmente o colégio não funciona mais como instituição jesuítica, no entanto permanece religiosa, funcionando como seminário, irônico é sua funcionalidade ter o mesmo intuito que se tinha há 400 anos, formar novos religiosos.  


     Seminário de Olinda e Igreja de Nossa Senhora da Graça
Fonte: atual foto retirada da internet 
Sugestões de leituras: 

ALBUQUERQUE, Marcos. Jesuítas em Olinda: Igreja de Nossa Senhora da Graça, Herança e Testemunho. 1995. Tese (Doutorado em História) — Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1995.

LEITÃO, Ana Rita Bernardo. Problemática assistencial, sociocultural e educativa nas aldeias e missões do Real Colégio de Olinda (séculos XVII e XVIII): contributos para a história indígena e do ensino do português no Brasil. 2011. Tese (Doutorado em História e Cultura do Brasil) — Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, Lisboa (Portugal), 2011.

LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil: Séc. XVI - O Estabelecimento. Tomo I. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938.


História da Companhia de Jesus no Brasil: Século XVI - A Obra. Tomo II. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938.


Escrito por: Matheus Felipe Guimarães dos Santos
Graduando em Licenciatura em História pela Universidade de Pernambuco - Campus Garanhuns
E-mail: mf366699@gmail.com

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