O queijo de coalho foi um dos primeiros queijos produzidos no Brasil, quiçá o primeiro, datado de 1581, com registros iniciais de sua produção na Bahia, seguido rapidamente pelo estado de Pernambuco. Entretanto, a produção em larga escala e a consolidação dessa iguaria ocorreram principalmente em Pernambuco, em virtude de fatores geográficos, econômicos e culturais.
Quando menciona-se geografia, é possível dialogar com a formação das primeiras comunidades colonizadas do interior do estado de pernambuco, que são entrelaçadas com a pecuária leiteira. Isso em decorrência da distribuição de terras pelas sesmarias, a qual incentivava a formação de rebanhos, e também pela Carta Régia de 1701, que expulsou o gado da região costeira, visto que a sua criação nessa região atrapalhava o desenvolvimento econômico (Paquereau, 2016).
Esse fluxo de animais foi questão promissora para o desenvolvimento das cidades do interior, principalmente da região do agreste do estado, pois de acordo com Paquereau (2016), o clima e o pasto eram propícios para essa atividade. A criação de gado e o manuseio do seu leite, dinamizaram as primeiras formas de economia e relações sociais da região, que perpetuam-se até os dias atuais. Logo, percebe-se que a população local tem raízes com o leite, e posteriormente com queijo fabricado dele.
De acordo com dados do IBGE divulgados no Ofício n° 441/2023 da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (2023), os 27 municípios que concentram a região da bacia leiteira de Pernambuco são responsáveis pela produção de 2,2 milhões de litros de leite por dia, sendo 70% dessa totalidade destinados à produção de queijo de coalho, estimando-se 200 toneladas de queijo por dia.
Além disso, mais da metade da produção desse queijo deriva de uma produção familiar, ou seja, de uma economia de subsistência. Ainda segundo a ALEPE (2019), há uma estimativa de 70 mil fabricantes de queijo de coalho artesanal, dos quais a maioria atua de forma informal. Tendo isso em vista, entende-se que essas produções familiares têm características hereditárias, seus sabores e formas são perpassados há décadas nesta região. Nessa perspectiva, Paquereau (2016) discorre que:
As características do queijo de coalho estão estreitamente ligadas ao saber fazer ancestral, e especificidades edafoclimáticas locais o torna irreprodutível em outros lugares, o que faz com que ele seja um patrimônio cultural coletivo da sociedade que se enraizou em Pernambuco Id, 2016, p.78).
No ano de 2023, em parceria com o Museu do Queijo de Coalho, produzi um documentário sobre esse alimento, entrevistando participantes da atividade queijeira em algumas cidades do Agreste pernambucano.
Link do documentário: https://drive.google.com/file/d/1DXGcuUqLqFNap7B1417_jQtm3hX70ubr/view?usp=drivesdk
Joana D'ark Lima de Souza
Graduanda em História - UPE
joanal.darks@gmail.com
Comentários
Postar um comentário
Publicaremos seu comentário após a moderação. Desde já agradecemos!.