A obra A Insurreição Praieira, de Marcus Joaquim Maciel de Carvalho e Bruno Augusto Dornelas Câmara, aborda um dos episódios mais emblemáticos da história política do Brasil Imperial, examinando a complexidade de suas motivações e seus desdobramentos. Ocorrida entre 1848 e 1849, a Insurreição Praieira reflete a tensão constante entre as elites locais, as estruturas centralizadoras do Império e as demandas sociais que emergiam de setores marginalizados da sociedade.
A revolta foi originada pela cisão entre facções oligárquicas de Pernambuco, especificamente entre o grupo dos Cavalcanti, representante do Partido Conservador, e os dissidentes do Partido Liberal, que formaram o Partido Praieiro. O manifesto publicado pelos praieiros, intitulado Manifesto ao Mundo (1848), delineava propostas reformistas, como a nacionalização do comércio varejista, a autonomia provincial, a liberdade de imprensa e o fim do poder moderador. Tais demandas revelavam o esforço das lideranças em agregar apoio de diversos segmentos sociais, sobretudo dos trabalhadores urbanos, artesãos e homens livres pobres, que viam no movimento uma possibilidade de contestar sua condição de exclusão social e econômica. Os autores destacam, no entanto, que as aspirações populares frequentemente eram instrumentalizadas pelas lideranças do movimento, que permaneciam vinculadas às práticas oligárquicas tradicionais. Assim, a Insurreição Praieira apresenta uma natureza paradoxal: ao mesmo tempo que catalisava insatisfações populares, suas raízes estavam firmemente ligadas às disputas de poder entre elites regionais.
A derrota dos praieiros, simbolizada pelo fracasso do ataque ao Recife em fevereiro de 1849, consolidou o domínio político da oligarquia Cavalcanti em Pernambuco e marcou o fim das revoltas liberais no Brasil imperial. O movimento não conseguiu superar as limitações estruturais do sistema político da época, que se caracterizava pela centralização do poder no Rio de Janeiro e pela manutenção de um modelo clientelista que favorecia elites locais. A historiografia sobre a Praieira é dividida. Enquanto autores como Caio Prado Júnior interpretaram o movimento como uma tentativa frustrada de revolução burguesa, estudos mais recentes, como os de Isabel Marson e Nancy Naro, situam a revolta no âmbito das disputas oligárquicas e das tensões sociais do período. Os autores da obra destacam ainda que o movimento refletiu as contradições do Brasil do século XIX, onde esforços de modernização política e social coexistiam com a perpetuação de práticas arcaicas de poder.
No panorama mais amplo, a Insurreição Praieira evidencia as dificuldades de articulação entre projetos de mudança social e os interesses das elites agrárias. O episódio, embora limitado em seus resultados práticos, revela a complexidade das dinâmicas políticas e sociais do Brasil imperial, sendo um marco na compreensão das relações entre poder, sociedade e reforma no contexto do século XIX.
Referência
CARVALHO, Marcus Joaquim Maciel de; CÂMARA, Bruno Augusto Dornelas. A Insurreição Praieira. Forum Almanack Braziliense, nº 08, novembro de 2008.
Escrito por: Júlio César Vilela Santos
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